20 dezembro 2017

Voyeur

Era de noite, a rua estava deserta, desci correndo do ônibus, pois queria estar em casa mais rápido. Dobrei a esquina depois do ponto e cheguei na minha rua. Estava tudo apagado: prédios, casas, luminosos de comércios, tudo no escuro, sem luz. Coração acelerou, apertei o passo, ouvi alguém tossindo, me assustei. Porém vi que era na calçada oposta a minha, no primeiro andar do prédio em frente a minha casa. Da janela aberta do apartamento, só conseguia ver uma silhueta, vi um pedaço do seu corpo iluminado pelo o cigarro em sua mão. Quem era?

Fazia uns três meses que morava ali. Trabalhava de manhã, estudava a noite, não tive tempo de conhecer meus vizinhos. Entrei no meu sobrado em frente a cena, e tentei saber quem era o ser misterioso. Subi para o meu quarto e pela persiana tentei avistá-lo, porém já tinha ido. 

Na manhã seguinte ao sair de casa reparei novamente no apartamento, agora com a janela fechada. Cheguei, depois das 23 horas, antes de virar a esquina para minha rua, ouvi um pigarro, corri para ver se era a silhueta. Lá estava fumando no escuro, sentado no beiral da janela. Os dedos prendiam o vaga-lume de nicotina, a mão apoiada no joelho voava passeando pela coxa, peito e até chegar a boca que tragava e soltava a fumaça. Caminhei mais rápido, tranquei o portão de madeira de minha residência e corri para janela. No escuro do quarto observei pela persiana ele repetindo aquele gesto algumas vezes, do joelho até a boca até o vaga-lume se extinguir.

Fechei a persiana, fui dormir pensando na cena e no meu vizinho, estava feliz por ser sábado no dia seguinte e talvez ia poder acabar com esse mistério.

Acordei cedo, abri a janela - a dele estava fechada - fiz a cama, coloquei as roupas para lavar e nada de vê-lo. Almocei, lavei as louças, tomei banho e sai com minhas amigas. Voltei a noite, alegre e leve pelo vinho que bebi.

Subi para meu quarto e mesmo no escuro, fui tirar meu vestido, uma ação bem complicada de se fazer estando bêbada. As pernas bambearam, o zíper ficou preso nas costas e quase não passou pela cabeça quando eu o tirei.

Depois da cena lamentável comecei a notar na lingerie nova de renda que usava, azul marinho. O efeito do vinho surgia ali também me fazendo ver desenhos que talvez não existissem. A renda era linda, com costuras, revelos e traços bem feitos, e eu a tateava como um deficiente visual lendo braile. Sentia o bojo sustentando meu seio embaixo e a renda contornando por cima, meus dedos tentavam decifrar aquele mapa de linhas, curvas e nós. Minha mão subiu até a alça onde os desenhos eram mais simples, porém desci novamente, meus dedos queriam saber sobre os desenhos do busto.

Minha curiosidade desceu até minha calcinha, a renda debaixo seria igual? O mapa desceria até ali?

Uma faixa lisa azul percorria minha cintura, a renda ficava mais embaixo, meu dedos sentiriam a renda, seguiram o caminho e acharam o tesouro do mapa. Mordi os lábios. Estava ainda de pé, em frente a cômoda que joguei o vestido, em frente a minha janela aberta...

Coração parou, pernas bambearam.. Subi com tanta pressa para me livrar do vestido que esqueci a janela aberta... Meu quarto estava a meia luz, iluminado pelo poste da rua, a mesma luz que invadia o quarto dele. Há quanto tempo será que ele me observava? Em uma das mãos segurava seu cigarro, na outra, seu membro quase ereto.

Era uma noite linda, quente, o vinho ainda me agitava e meu corpo pedia por algo.

Sorri e continuei. Virei de costas para ele e comecei a dançar devagar, subia e descia com uma das mãos apoiadas na cômoda; a outra mão, tirou o cabelo das minhas costas para que ele pudesse me ver mais. Agachei e lentamente subi só meu bumbum, minha lombar e cabeça subiram depois.

Coloquei minhas mãos atrás e abri o fecho do sutiã - nessa hora nem ligava mais se ele estava assistindo ou não, estava fazendo para mim, queria me satisfazer. Meus seios estavam livres, cobri com as mãos, virei meu rosto para ver se meu vizinho ainda me olhava, sorri meu sorriso mais safado e o vi lá, me observando e se tocando. Virei e fiquei brincando com meu vouyer, enquanto eu mostrava um seio, cobria o outro, até mostrar os dois.

Do outro lado não conseguia ver muita coisa dele, mas o pouco que via, percebi  ele rindo, já havia largado o cigarro queimando sozinho no cinzeiro e estava focado em mim. Acho que ele não me via tanto também, mas a imaginação falava mais alto.

Minhas mãos puxavam meus cabelos, percorriam meu pescoço e voltavam para meus seios que apontavam para ele, apertava meus mamilos que já estavam duros e eu mordia os lábios. Elas circularam mais meus seios, contornaram minha cintura e pousaram na minha barriga. No quadril, brincaram com o elástico da minha calcinha e foram puxando mais para baixo.

Fiquei de costas de novo, era bom ficar seduzindo, brincando de esconde e esconde, ri alto e pisquei pra ele, ou para mim mesma, estava conhecendo meus limites e me divertindo. 

Rebolei um pouco e fui tirando a calcinha, baixando centímetro a centímetro, até ficar completamente nua, peguei a peça azul recém tirada e joguei no beiral da minha janela. Minha mãos podiam percorrer todo meu corpo nu, o vento soprava leve e eu me sentia inteira. Elas desceram da minha barriga até a virilha, brincaram alí, depois pularam para os grandes lábios, meus dedos aprovavam aquela carne volumosa, macia, e meus dedos passearam entre as coxas até chegar mais atrás, na bunda. Eles voltaram percorrendo os outros lábios, desfrutaram da lubrificação dali e deslizaram no clitóris. Uma corrente elétrica irradiou daquele pequeno pedaço escondido em mim pelo meu corpo inteiro. Estava pronta.

Abri a última gaveta da cômoda, e apoiei um pé, estava aberta, livre, acesa.

Meus dedos estavam na carne macia dos lábios da minha boca e desceram para os outros lábios, senti meu clitóris crescer, ele apontava para mim, então, brinquei com ele. Fiz movimentos circulares de leve, devagar, aumentei a pressão, depois com dois dedos brinquei de "ir e vir" e ia alternando nesses dois movimentos, aumentando a pressão e parando às vezes.

Meu dedo se perdeu dentro de mim, e eu me encontrei com ele. Era daquilo que eu precisava de um tempo só para mim.

Ele deslizava facilmente para dentro, entrava e saia bem do jeito que gostava. Introduzi outro dedo e foi bem mais gostoso. Enquanto uma mão introduzia, a outra massageava o clitóris, aquela combinação de movimentos me deixou com calor, suada e elétrica. Os dedos entravam mais rápido mais forte, assim como a massagem, que ganhou força e pressão.

Abri os olhos e o vi se tocando, ele estava de olhos fechados, mordendo os lábios e se satisfazendo. Aquilo me inspirou, aumentei mais a pressão, a velocidade, meu coração acelerou, não conseguia parar em pé, minhas costas se curvavam para a frente, porém eu não parava, queria chegar até o final, eu tava quase la, foi quando ouvi:

- Gostosa! - ele gritou do outro lado da janela.

Era o estímulo final que precisava, gozei ao ouvir aquilo, gemi alto e minhas pernas quase tombaram para a frente, me segurei na janela, ali consegui vê-lo melhor. Vi os momentos finais do prazer dele. Ele estava sentado com a mão dentro da cueca, brincando com seu pênis para cima e para baixo, até se contorcer na cadeira e relaxar o braço.

Sai da janela, fui dormir. Era o efeito do vinho ou ouvi alguém me aplaudindo?

Acordei de ressaca, dor de cabeça, vi meu quarto bagunçado, vestido jogado, gaveta e janela aberta. Foi real, ou apenas um sonho? Fui até a janela e vi minha calcinha no beiral, corri para tirar. Ouvi aplausos e vi meu vizinho na sala dele me brindando com café. Sorri envergonhada e fechei a janela.

Confesso que abri a janela algumas outras vezes para tomar um ar, ou para desfilar minha lingerie nova.


29 novembro 2017

Offline


Num mundo conectado, online, multimídia, faz falta algo ao vivo, frente a frente, offline, mas com ótima conexão. Uma conexão além do 4G, conectar olho no olho, pele na pele, voz no ouvido.

Entre smartphones, tablets, design digital, user experience, a experiência que queremos é mais carnal, humana, sem uso de VR, em uma realidade aumentada no dia a dia.

Esquece a hastag, esse qr code desatualizado e esse emoji, quero seu perfil de verdade na minha frente; cancela esse storie e me conta essa história ao vivo.

Deixa os aplicativos desatualizados e atualiza nosso bate-papo, nosso sentimento.

E quem sabe @, a gente se diverte nesse boomerang até acabar a bateria.

06 novembro 2017

Café

- Algo mais? - disse ele.

Ela acordou quando o copo quente de  isopor tocou em sua mão, se assustou ao pegar o café.

- Não obrigada.

Sentou de frente a lanchonete observando esse que a servira. Abriu um sachê de açúcar e despejou seu conteúdo na bebida, pegou uma colherzinha e mexeu devagar.

Ele era fisicamente do tipo que sempre a atraia: alto, branquelo, magrelo e cabelo um pouco comprido. Usava um avental amarelo, daqueles que dá um nó atrás para amarrar e uma touca da mesma cor para prender os cabelos. Era simpático com seus clientes e trabalhava com muita agilidade e alegria; a cada detalhe, o café ficava cada vez mais gostoso.

Aproximou o copo da boca, fechou os olhos e sentiu aquele aroma a dominando. Aquele sabor meio adocicado, meio amargo encontrou com a sua língua, desceu deliciosamente morno pela garganta até chegar ao estômago. Sorriu sentindo aquele calor se expandindo pelo corpo inteiro.

Pensou em como seria tomar um café com ele, seria mais doce ou mais amargo? Quente ou frio? Forte ou fraco?

Há alguns anos ela teria sido mais ousada investiria nele, chamaria para um café, porém naquele momento ela estava em paz, curtindo um café sozinha; foi egoísta e ficou com aquele sabor só para ela.

São fases, tem dias que queremos dividir o café com alguém, tem dias que é bom tomar sozinho, o sabor ficar mais forte, mais delicioso.

O rapaz continua ali servindo bebidas, quem sabe numa próxima xícara ela não esteja em outra fase e o chame para beber com ela.

31 outubro 2017

Replay

É um déjà-vu, um replay, um looping. Parece a mesma melodia, mesmo acorde, mesma música. Mais uma vez estou boquiaberta em frente ao palco vendo um rapaz tocar - certeza que vida passada eu fui uma partitura só para sofrer na mão de um músico.

Preciso descrevê-lo? Magrelo, estiloso, cara de bom moço, em cima do palco se divertindo com o que fazia, combinação perfeita para me deixar com as pernas bambas.

Um olhar intenso, um sorriso de menino e uma coragem de gigante, queria admirá-lo o show inteiro. Mas como num déjà-vu, num replay, não falei com ele, só observei de longe e me inspirei para escrever esta declaração. Fiquei morrendo de vontade,, mas agora nem Buscopan vai me fazer melhor.

07 setembro 2017

Pedido

Ele era magro por inteiro, menos no volume da cueca branca que se destacava: era grande e grosso.

Se conheciam há uns anos de um aplicativo de relacionamento, e comemoravam essa amizade se encontrando uma vez por ano só pra transar. A cada encontro trocavam longos diálogos, experiências passadas e carícias.

Naquela noite ela usava um vestido curto verde, com meias e botas pretas, e uma calcinha vermelha. Ele sabendo do gosto dela, para enlouquecê-la, colocou uma camisa social preta e seu jeans rasgado. Se encontraram na casa dele. Na cozinha pegou o saca-rolhas e abriu um vinho, e o som da rolha abrindo a garrafa, abriu também memórias antigas dela:

- Esse som me lembra a última vez que estive aqui. Estava no seu quarto quando você abriu a garrafa e desde então esse som me enlouquece, pois lembro da nossa última noite.

Ele serviu o vinho em duas taças, pegou a garrafa e foi para o quarto, com ela seguindo atrás.

- Vem abrir meu vestido! - falou ela de pé ao lado da cama, enquanto colocava as mãos no colchão arqueando as costas e deixando o quadril mais alto.

Ele chegou por trás, encoxando a garota e abriu o botão do vestido. Uma das mãos a agarrou pelos cabelos e a outra foi em direção da calcinha. Empurrou ela de leve para a cama, deixando-a de quatro e grudou seu quadril no dela, que agora se movimentava devagar, sentindo com a bunda um volume crescendo na calça dele. Ele puxou a calcinha pro canto e tocava a garota com o polegar, massageando suas partes em movimentos circulares, para cima e para baixo. Sentiu que ela relaxava e quanto mais ele a tocava, mais molhada ela ficava.

Parou. Segurando os seios dela, a ergueu e tirou seu vestido. Peito grudava nas costas dela. Com os corpos colados, ela aproveitou para tocar no membro duro dele, invadiu aquele jeans com uma das mãos e sentiu aquela pele pulsante na cueca. Tirou o volume para fora e o colocou na boca, chupou deixando bem molhado. Sua língua passeava pelo corpo até a cabeça, sugou aquela região enquanto suas mãos brincavam com as bolas dele. Colocou de novo o pênis na boca, ele arrumou os cabelos dela para o lado e segurou sua cabeça controlando os movimentos de vem e vai que ela fazia. A saliva escorria pela boca.

Deixou ela de quatro novamente, era a vez dele salivar. Sua língua se encontrou com os grandes lábios dela, e foi passeando por ali. As mãos dele subiam pela coxa até o bumbum, e enquanto a língua estimulava o clitóris, seu dedo se aprofundava da vagina, que se abria para ele.

Sentiu ela ficando mais relaxada, mais molhada, com a respiração mais ofegante. Ela contraia os músculos até os dedos do pé. Sentia uma energia corrente por todo seu corpo.

Ela empurrou a cabeça dele que entendeu o comando, ficou de joelhos e penetrou nela, escorregando, deslizando pausadamente até ela morder os lábios. Começou devagar aquela movimentação de ir e vim, até aumentar o ritmo e a cabeceira da cama bater na parede e suas bolas baterem na bunda dela. Pele com pele. Uma fricção, um fogo acendido por um fosforo.

Ela agarrava o lençol e gemia, ele a agarrava pelo quadril e pelos cabelos. Ela sentia suas pernas tremendo. Ele deu um tapa na bunda dela de surpresa que a fez soltar um gemido alto, que o fez rir, só voltou a ficar sério quando ela olhou para trás e pediu para ele fazer mais forte.

Ela arqueou as costas, deitando a face no colchão e arrebitando mais o quadril para ele, que enquanto a comia, com força começou a tocá-la de leve, ela se contorcia, gemia e sorria.

O suor escorria na pele de ambos, de repente o quarto virou uma sauna. Ele tirou a camisa, pausou o movimento para tirar a calça. Ela sorria esperando ele na pose anterior, quando ele se ajoelhou para penetrá-la novamente, ela falou:

- Coloca atrás, mas devagar.

Ele ficou boquiaberto com a frase e aceitou o pedido fazendo do jeito que ela queria. Agora foi mais pausadamente do que antes, ela se contorcia mais e gemia com mais facilidade, aquilo o excitava mais, vê-la daquele jeito o deixou morrendo de vontades. Colocou até onde pode e foi fazendo aquele movimento lento, indo e voltando até chegar numa velocidade mais alta. Sentia ela mais molhada, como nunca havia sentido antes, seus dedos escorregavam e ela gemeu alto até não aguentar mais e gozar. Desmaiou na cama, deixando ele com mais tesão e gozando depois, deitando em cima dela.

Ela sentia o coração dele bater rápido nas costas dela. A respiração deles ia voltando ao normal. Ela olhou para o lado e disse:

- E a gente nem bebeu o vinho!

26 abril 2017

Respirei

São Paulo. Janeiro quase noite.Verão que me matava, mesmo sem o Sol qualquer um suava na rua. A mudança de temperatura pegou todos os meteorologistas desprevenidos, o calor aumentou mais do que eles tinham previsto.

Voltava para casa depois de hora extra no trabalho. O ônibus como sempre estava cheio de pessoas e de mau humor. Minha calça jeans a cada segundo colava mais na perna. Calor, tempo quente e seco. Janelas estavam abertas, porém não entrava vento. Suava. Sentia minha boca seca, engolia mas não vinha saliva, mão tremia, olhos pesavam, pressão caindo, sentia medo, visão ficando escura.

Era a curva do ônibus, ou senti meu corpo tombando? Caí no corredor, ou foi apenas sonho?

Senti meu corpo sendo elevado, dois braços me ergueram do chão e me levantaram. Acho que ouvi vozes. Senti a mudança de temperatura quando me levaram para fora do ônibus.

Respirei.

O mau estar foi embora tão rápido quanto a pessoa que me ajudou, sumiu.

Minhas mãos não tremiam mais, o soro que estava em minha veia me trouxe estabilidade e uma consciência cheia de dúvidas. O que aconteceu? Que lugar era este, um hospital? Quem me ajudou e me trouxe até aqui?

Quase duas horas depois, melhorei, estava menos assustada e com a pressão normal. A enfermeira me aconselhou a ir embora de táxi, uber, algo que eu fizesse menos esforço. Ganhei um atestado para não ir ao trabalho no dia seguinte, então poderia descansar e deixar esse episódio ruim para lá. Antes de partir perguntei a ela quem me levou para aquele hospital, ela respondeu: "um rapaz branco, magro e com barba" - ótimo, só batia com a descrição de dez caras que estavam no mesmo ônibus que eu.

Cheguei em casa sem ter trocado uma palavra com o motorista, minha mente estava longe. Larguei minhas coisas no sofá e fui tomar um banho quente. A água morna escorrendo pela minha nuca me relaxava, porém não conseguia tirar toda aquela cena da cabeça. Sai do chuveiro e me encarei no espelho. Achei um roxo no meu cotovelo e uns arranhados no nariz, fora minha cara abatida.

Respirei.

Conversei com umas amigas por telefone sobre o ocorrido, e para cada uma tentava montar esse quebra-cabeça, repassando os fatos na mente para preencher aquele buraco na linha do tempo e encontrar a peça que faltava. Nada. Nenhuma nova lembrança. Decidi fazer um chá para tentar dormir. Enquanto a água fervia, filosofava tirando o curativo do meu braço, que protegia onde o soro havia sido aplicado. Puxei com força aquilo da minha pele e a aquela pequena dor foi a última que senti por meses.

Dormi.

Três semanas se passaram. Já estava recuperada daquele evento e melhor preparada: alimentação e hidratação em dia. Saí do trabalho mais tarde, não ligava, pois, era apaixonada pelo horário de verão. O calor como montanha-russa tinha seus altos e baixos, e aquela noite estava uma delícia.

Vi meu ônibus chegando no ponto, corri para a fila para não perdê-lo e no impulso desastrado da minha corrida, pisei no pé de um rapaz. Antes que eu pudesse me desculpar, ele se virou sorrindo:

- É bom saber que você está bem, moça! - falou o rapaz magro e de barba na minha frente.

Minha boca ficou aberta por uns segundos, engoli seco e tentei raciocinar. Eu reconhecia aquela voz, já tinha ouvido antes. Aqueles olhos castanhos também não me eram estranhos, sentia uma paz olhando para ele. Minhas pernas ficaram bambas, coração acelerado e boca ficando seca: era ele! Subi no ônibus atrás do rapaz juntando as moedas e as palavras para perguntar sobre aquele dia. Sentei ao lado dele e falei:

- Desculpas pelo pé e obrigada por aquele dia...

- Não fiz mais do que minha obrigação. Você pisou no meu pé aquele dia também, depois ficou branca e desmaiou, não deu nem tempo de ficar bravo. - ele falou rindo

- Pisei no seu pé aquele dia? - perguntei assustada confirmando como sou desastrada

- Você sempre pisa no pé direito, tá na hora de pisar no outro para não ficar com ciúmes...

Suspirei

25 abril 2017

Banner

O dia que minha bunda virou um banner, eu estava de pé com as costas arqueadas para baixo e com os cotovelos apoiados na mesa.

Minha bunda era a única de pé numa sala de sentados atentos às minhas "condições glutaneas". Era um banner, um outdoor pendurado no meio das pessoas.

Reinei absoluta por uns minutos até me tocar que a preferência nacional não era o foco do momento.

Sentei encabulada guardando a obra de arte - já que é minha chamo do que quiser - dos olhos dos demais, que se quer notaram o quadro exposto.

Tem artista que é bicho ruim, egoísta e acha que sua bunda arte é o centro do universo.

20 abril 2017

Pirata

As palavras sumiam quando ela mais precisava, ficava muda.

A foto que ela observava no Facebook a fazia embarcar em histórias dentro daquele olhar profundo.

Ele tinha cabelo escuro como a noite e comprido, um pouco abaixo da orelha. Seu bigode e barba eram bagunçados, um pouco falho, o que deixava o rapaz com um ar misterioso e descolado. Para finalizar, um brinco na orelha: era um pirata completo.

O pirata era um palestrante de um curso de redação publicitária, algo que ela já tinha formação, mas ficou curiosa com quais conteúdos podia aprender com ele:

   - Como enfrentar a deriva criativa?
   - Oceano do desespero sem ideias
   - Como atracar em uma ideia
   - Como persuadir sua tripulação
   - Qual onda criativa devo seguir?
   - Como sobreviver ao mar da inspiração


No meio da fantasia que criara imaginou estar num navio pirata, sem tripulação, apenas com ele, cruzando os mares. Durante a viagem ela descobria cada ponto interessante do corpo dele de acordo com o mapa do tesouro que possuía.

Iniciaram um jogo de contação de histórias, onde quem contasse mentira e outro descobrisse, teria que beber. Depois da segunda garrafa de rum, ela se aproximava do baú de tesouro, chegava mais perto da boca dele a cada pérola que ele dizia, e a enfeitiçava.

A história não tinha papagaio, perna de pau, ou invasão, era um pirata moderno num barco chique.

Na proa da embarcação olhava para o horizonte azul aonde seu comandante te levava. A lua cheia no céu refletia no mar e o vento soprava forte e gelado nos seus cabelos. O percurso seria curto, pois era um intensivo de final de semana, porém ela aproveitou cada momento da sua aula para tirar dúvidas e aproveitar melhor aquele tesouro.

A imaginação acabou afundando no momento que ela viu as vagas do curso esgotadas. Seu pirata partiu levando seu tesouro e o coração dela.



Trupe Chá de Boldo - Pirata

"Você, invadiu meu rádio aparelho vagabundo
Em sintonia o dia inteiro na mesma estação
Bandida
Assaltou minha ilha tranquila
Expulsou os corsários da minha ilharga
Com navalhas e canhões
Libertou da prisão meu coração pirata
Me atirou à sorte incerta das correntes
À navegação que fez da minha tristeza
Um náufrago"


ouvir: Trupe Chá de Boldo - Pirata

02 abril 2017

Fumaça

Meu rosto está colado no teu peito pouco cabeludo, minha cabeça se movimenta de acordo com sua respiração, descendo e subindo. Escuto seu coração acelerado e percebo que está no mesmo ritmo que o meu.

Minha mão desliza pelo outro lado qual não estou apoiada. Do pescoço te aliso até o umbigo e brinco nesse percurso diversas vezes até decorar cada pedaço do seu abdômen.

Sinto nossas peles se tocando. Minha coxa cruza sua perna e te encaixa em mim, sua coxa quente suada gruda na minha fria. Nossos pés também se tocam de leve, se sentem.

Vejo a fumaça dançando pelo quarto a meia luz. Bem de perto reparo no movimento da sua boca durante o trago, na pressão que seus lábios fazem no cigarro, e como eles ficam menos tensos quando você expele esse ar fedido. Eu sempre odiei esse cheiro, mas quando você o solta não me importo; a gente até brinca de descobrir desenho no ar.

A fumaça dança livre e solta pelo quarto em cima da cama, como eu estava ontem a noite no seu colchão. Dançava para você me fotografar, filmar, gravar meus detalhes até me convencer a posar nua para você.

Arranquei meio sem jeito meu tênis e meia, fiz um charme tirando a calça e virando de costas para você ver o detalhe de renda da minha calcinha. A camiseta branca e o sutiã voaram na sua direção enquanto eu ficava nua no meio do teu quarto.

Baguncei toda sua mesa perfeitamente detalhadamente arrumada, jogando tudo no chão e sentando em cima. Estava nua na sua mesa e olhando para você. Coloquei as pernas cruzadas pra cima ao meu lado e inclinei o corpo quase deitando, ficando apoiada pelo cotovelo, e a com a mão na cabeça. Te sorri e disse para começar.

Você tirou da mochila seu caderno e estojo. Escolheu o melhor lápis e pegou a borracha. Aumentou a música que tocava no seu notebook, puxou a cadeira que estava ali perto e sentou na minha frente. Me observou, mediu cada centímetro do meu corpo - e esse olhar ainda me causa arrepios- e começou a me desenhar.

Você tensionava os lábios,mordia o inferior quando se concentrava; seu pé direito balançava de acordo com a música - te sentia inquieto, via seus ombros tensionados assim como o movimento do seu braço.

Quatro músicas já tinham sido nossa trilha sonora, fazia mais de vinte minutos que eu estava naquela pose. Meu braço já estava formigando, minha musculatura tremia, não aguentava mais. Por cima do caderno você me olhou e deu seu sorriso mais safado dizendo para esperar mais um pouco.

Acabei! - você falou entusiasmado levantando da cadeira.

Desabei para trás deitando as costas na madeira fria. Meu braço e pescoço doíam. Estava dolorida, mas super curiosa. Queria ver o desenho. Você o trouxe até mim e eu fiquei boquiaberta, quase sem reação. Estava lindo, perfeito! Minhas marcas de expressão, meu sorriso torto, até a pintinha da minha barriga foram retratados com muita fidelidade.

Ao me lado você começou a massagear meu braço e ombro dolorido, enquanto eu ainda admirava o desenho. Os carinhos da sua mão se transformaram em beijos e fui beijada do pescoço até a ponta dos dedos. Tu pegou o desenho, colocou na cadeira e me ajudou a levantar, me conduziu até a cama e me deitou. Agora fazia massagens e dava beijos no outro braço. Posicionou seu corpo em cima do meu e nossas bocas se encontraram como seu lápis no papel, forte e cheio de movimentos. Suas mãos me tocavam como se estivesse fazendo rabiscos com os dedos, seus traços eram leves no começo, depois foram ficando mais fortes, saindo do rabisco para a arte final.

Nossa obra ficou espalhada pelo quarto; roupas, lençóis, cadernos e lápis estavam perdidos no meio da nossa bagunça criativa. A arte me consumia, fiquei sem ar com o coração acelerado e pernas tremulas. Te abracei, deitei no teu peito, você esticou o braço e acendeu um cigarro. Reparei na fumaça que subia. Fumaça essa que dançava livre e solta pelo seu quarto, igual a mim ontem a noite...




24 março 2017

Lição

Então depois de alguns anos voltei a estudar. Precisei me adaptar com as aulas, tarefas para fazer e trabalhos em grupo, sem contar o novo horário e a rotina diferente.

O centro universitário enorme: dois blocos de dois andares e diversas salas de aula, desde as convencionais até os laboratórios de informática e os ateliês de moda.

Estudo a noite e semana passada cheguei mais cedo; fiquei na pracinha perto do prédio um, ao lado do lago das carpas. Sentei em um dos bancos de madeira para admirar o ambiente e esperar minha aula. Já era outono e o vento gelado cortava a pele. Ouvia música no fone escrevia algo sobre a matéria que teria a seguir... E de repente meu fone ficou mudo, minha caneta sem tinta e o vento sem forças: você passou.

Como em um déjà-vu te vi novamente na minha frente e minha reação foi a mesma. Fui imediatamente atraída por sua pessoa, coração acelerou e senti minha face ficando vermelha.

Você passou com sua calça jeans clara, uma camisa azul xadrez e cabelos negros e longos presos em um coque. Como uma miragem você virou em um corredor e sumiu. Na loucura do impulso levantei como a mochila e as coisas na mão, mas sentei em seguida pensando: o que falaria se eu fosse atrás de você?

Lembro que faz umas três semanas que te vi pela primeira vez, no mesmo vagão que eu. Seu estilo cabeludo e magrelo me encantou, meu olhar logo pousou em ti. Ao seu lado havia uma moça, porém não sabia se era amiga, ou algo mais. Alucinada com sua presença, fingi tirar uma foto da linha do trem só para ter você como plano de fundo, e compartilhar com minha amiga que possui o mesmo gosto que eu. No exato momento da foto você olhou para mim, e hoje eu tenho seu retrato salvo comigo. Talvez seja por isso, que esses dias na universidade te reconheci: por conta da pintinha que você tem na bochecha perto do olho. Essa pintinha magnética que me faz querer te olhar mais e me atraí até você.

Na minha segunda semana na nova faculdade já tive minha primeira lição: precisamos estar preparada para as peças do destino e estar com a matéria na ponta da língua.

19 março 2017

Nego


Era a segunda vez que visitava aquela cidade, a primeira nem conta, pois era Carnaval e é tudo muito cheio, poluído, não dá para ver os detalhes, as cores e pessoas.

Na pracinha do centro, ouvi um grupo tocando percussão, ritmos típicos da região. Cheguei mais perto e vi que era uma oficina, uma aula para quem quisesse aprender a tocar algum instrumento, conhecer novos ritmos - algo que sempre quis.

Era aula de Maracatu e me deram um "abê" para tocar - aquela cabaça seca envolta por uma rede de contas. Sentia o peso do instrumento nas mãos, a temperatura, as contas passando pelos meus dedos, e o som que fazia a cada movimento que eu dava, era incrível.

As crianças e turistas que ali estavam, tocavam e se divertiam com a nossa banda improvisada. Eram sorrisos, gargalhadas e passos de danças. Era tudo muito leve, solto, sem preocupação, sem vergonha. Era contagiante! O calor da cidade vinha das pessoas também.

Alguns minutos depois chegaram uns três, quatro rapazes para tocar com a gente. Um deles ficou ao meu lado e me ensinou um jeito melhor de pegar no abê, para sair um som mais limpo.

Minha pele branca contrastava com a dele, um pouco mais escura. As tatuagens dele fizeram meus olhos analisarem ele como um raio-x, reparando nos detalhe. Era alto, magro, com uma carinha de mau caráter, estilo marginal - aquele estilo que a gente se atraí, mas fica com medo.

A aula durou mais ou menos uma hora e teria uma outra sessão no dia seguinte. Peguei o contato deles e decidi voltar depois para uma segunda dose.

Antes de sair, o rapaz com sotaque delicioso que estava meu lado, perguntou meu nome, de onde eu era, se já conhecia a cidade. Me apresentei e disse que conhecia bem pouco, e estava precisando de um guia para conhecer melhor. Ele se ofereceu para mostrar a cidade do ponto de vista dele, eu aceitei.

Subimos, descemos e viramos ladeiras do centro histórico de Olinda. Lá no alto dava para ver a praça, onde nos conhecemos, a igreja central, a cidade e o horizonte coberto de mar. Ficamos ali contemplando a paisagem, os detalhes. Vendo o sol se despedindo, sentindo uma paz me dominando.

A paisagem era linda. O sol ia embora, mas mesmo assim ele ainda queimava a pele e a alma, me aquecia e eu sentia um calor diferentes. Descemos a ladeira e ele me guiava pelos labirintos e ruas de casinhas coloridas, janelas baixas que davam quase para as ruas de paralelepípedos. Tropecei em um deles e ele me segurou para que não caísse. Aquele abraço durou um segundo para quem estava de fora, e uma eternidade para quem sentia sua pele tocada.

Ele segurou na minha mão depois do acidente, e foi mais fácil me guiar e ajudar - até que ele não era tão marginal assim. Me levou até um centro cultural que dava aula de dança e aprendi: coco maracatu, cavalo marinho - ele não saiu do meu lado e me dizia "faz assim nega", me ensinando o passo.

Dancei de tarde até à noite com ele. Depois da aula, sentamos na calçada e trocamos histórias, confissões e até algumas carícias. O sol já havia dado lugar a lua, mas o calor em mim, permanecia. A timidez deu lugar a um coração acelerado, a pele arrepiada, a troca de olhares mais profundos.

A lua brilhava no céu e eu sorria para ele. Ria quando ele cantava, falava que era perigoso por conta lua, que era para eu ter cuidado, em um misto de vampiro e lobisomem, beijou e mordeu meu pescoço.

Andamos até a praia. Meu guia me contava as travessuras que ele aprontou por cada ponto que passávamos. Sentamos na areia, perto do mar. Eu tinha ido poucas vezes para a praia a noite, ele disse que relaxava naquele momento, que se inspirava e meditava por ali.

Meu coração acelerado, acalmou. As ondas iam e vinham numa coreografia a parte. Eu parei, fechei os olhos e ouvia o barulho do mar. Ele pegou nas minhas mãos e imitava o movimento do abê de acordo com as ondas, era como se eu controlasse tudo aquilo - me senti tão poderosa, tão parte da natureza, algo que nunca tinha sentido antes.

Quase onze horas, meu celular tocou e eu como a Cinderela, precisei sair e voltar correndo para o hotel, resolver uns problemas. Precisava voltar imediatamente para São Paulo, então ele passou seu número e anotei no meu telefone. Deixei minha aula e ele para trás, mas prometi entrar em contato quando chegasse.

No meio da corrida e da confusão de arrumar as malas e sair correndo para aeroporto, perdi meu celular onde havia contato dele.

Procure por ele nas redes sociais, mas só com apelido que eu tinha era difícil. Busquei na oficina de música, de dança e nada.

Terminei meu relato, meu pedido de ajuda. Publiquei no Facebook na esperança que um dia ele pudesse ler.

Eu espero não tenho pressa, ele me ensinou a ter calma. Só olhar o mar, as ondas me acalmam, me fazem lembrar dele.

Um dia nego, eu volto para Olinda para me perder nas ladeiras e nos seus braços.



15 fevereiro 2017

Moça

Verão, a estação que ele mais gostava. Férias, o período que tanto desejava.

Pegou seu carro sexta a noite e desceu até o litoral. Acostumou-se a fazer aquele caminho acompanhado da família desde que tinha 8 anos. Hoje estava só, os pais estavam cansados e não quiseram ir, então foi curtir suas férias, seus dias de descanso sozinho.

Eram umas 19h quando chegou na baixada. Descarregou o carro, viu se estava tudo bem na casa, pegou umas coisas e saiu para a praia. Colocou sua bermuda preta e cinza, uma camiseta, toalha, garrafa de água e amarrou sua prancha - companheira de anos, no carro e partiu.

O caminho da casa até o mar devia dar uns quinze minutos, mas se sentia um pré adolescente, a praia não chegava nunca e o coração acelerava a cada metro. Ansiava por aquilo, era praticamente um caiçara, a água salgada corria nas veias; precisava fazer aquele ritual de conexão com a natureza, mergulhar de cabeça para o ano começar de vez.

Mesmo a noite o calor ainda dominava. Na areia analisou o mar, via poucas pessoas por ali. Uns perdidos corriam no calçadão para ir embora, outros limpavam a areia da roupa e partiam, todos saindo, menos ela. Ela chegou caminhando hipnotizada pelo mar, pisava na areia como se flutuasse, mesmo parecendo ter o peso do mundo nas costas, andava devagar, focada no mar a sua frente. Sentou e afundou o corpo na areia fofa. Ele a observava enquanto passava parafina na prancha - será que algo aconteceu com ela?

Largou suas coisas ali num cantinho e correu em direção ao mar. Precisava ir com tudo, assim não sentiria se a água estivesse gelada, porém com um dia de calor como aquele, a temperatura estava uma delícia, morna. Depois de um mergulho, subiu de volta a superfície, respirou fundo e pensou: o trânsito até ali tinha valido a pena. Agarrou a prancha com um braço e com o outro começou a nadar até um local em que pudesse esperar uma onda. O mar estava bom, tinha apenas que esperar o momento perfeito. Sentou na prancha: era agora! Deu meia volta batendo os pés na água e nadou um pouco, esperou e conseguiu pegar sua primeira onda da temporada.

Pegou umas outras, perdeu algumas, levou um caldo, em resumo foi uma ótima noite para abrir o verão do surfista,

Agarrou sua companheira embaixo do braço e foi caminhando até a areia. Sentiu todos os milhares de grãos de areia grudando e machucando seu pé. Fincou a prancha num montinho de areia, tirou a camiseta encharcada e colocou na ponta da mesma. Pegou uma toalha e tirou o excesso de água do corpo e do cabelo. A moça havia olhado para ele algumas vezes, então puxo assunto:

- Vai entrar? - perguntou o rapaz se aproximando.

- Não! Deve estar gelada...

- Tá nada! Está quentinha, calmo e tem poucas pessoas.

- Eu não sei nadar... Nem no quente, nem no frio... Gosto de sentar na areia, observar as pessoas e o lugar.

- Você analisa as pessoas então?
- perguntou o rapaz desconfiado, lembrando dos olhares dela de antes.

- Gosto de olhar - respondeu a moça - Reparar nos detalhes, na postura, no gestos, na paisagem, em tudo. É a primeira vez que venho nesta praia, então quero guardar tudo.

- Então vem comigo que vou te levar num lugar para você curtir mais a paisagem
.
Ela era tímida, reservada, mas ainda sentia que algo a incomodava, por isso decidiu levá-la no seu canto preferido da praia, para que ela pudesse relaxar e observar a paisagem. Andaram pela areia branca e fofa, depois a beira mar, na areia mais dura. A garota usava uma regata branca com um biquíni rosa por baixo, um mini shorts de algum tecido preto maleável; estava com um mochila pequena e com as sandálias na mão. Ele andava ao lado com sua prancha e as outras coisas que trazia; ele reparava que ela perdia um pouco da conversa enquanto encarava a prancha - até pensou em deixá-la segurar um pouco.

Apesar da noite a lua cheia iluminava o caminho deles, as estrelas no céu anunciavam que no dia seguinte faria mais calor - essa foi a teoria que ele disse que o avô contava, sempre acreditava, sempre deu certo. O caminho de onde estavam na areia até o topo das pedras devia dar uns vinte minutos, que foi recheado por histórias dele e da família. Como no dia que ele resolveu ir só de bermuda para o mar sem nada por baixo, a onda veio e deixou a vergonha dele para fora e seus 12 anos nunca mais foram os mesmos, nunca esqueceu da cena, nem da bronca da mãe.

Chegaram nas pedras que dividiam as praias. Ofereceu ajuda a garota que aceitou - a mão dela estava gelada, seria normal, ou estava com medo dele? Foram subindo passo por passo, pedra por pedra, história por história. O sorriso dela surgia a toda aventura que o jovem contava, sentia-se cada vez mais segura quando dava a mão para ele ajudá-la.

- Cuidado que aqui é um pouco escorregadio, já até cai ali, e fiquei com cicatriz no joelho, mas eu te ajudo. Vem! - disse o rapaz estendendo a mão.

Sentaram na pedra mais alta e puderam ver todas as praias. Viam o horizonte azul do mar se mesclando com o negro da noite. Atrás deles, o calçadão com alguns ciclistas, prédios iluminados e quiosques fechados. E lá de cima um silêncio, uma paz, algo estranho que ele não conseguia entender, parecia que conhecia aquela moça há tempos.

Colocou a mão sobre o ombro dela que a fez pular de susto saindo do transe em que se encontrava. Ele riu e pediu desculpas, e nesse momento, os olhos castanhos dele se encontraram com os dela. A mão saiu do ombro e foi descendo até as costas causando um arrepio por onde passavam, vértebra por vértebra, centímetro por centímetro, até chegar na cintura, onde ele pousou a mão quente. Puxou a garota mais para perto e o sentimento pré adolescente voltou junto com coração acelerado.

Os lábios se encontraram como o mar raso em destino a areia, leve, tranquilo e não muito molhado. O beijo evoluía como as ondas, ia crescendo, ficando forte, envolvente até se tornar um oceano de profundidade e entrega. Ali não dava mais pé para eles nadarem.

O rapaz ficou de pé e ajudou a moça a fazer o mesmo. Desceram o morro pelo lado oposto do que vieram. Chegaram na outra praia deserta e escura. Permaneceram perto das pedras onde nem a luz da lua incomodava. Ele deitou a prancha no chão, tirou a camiseta que havia colocado depois de secar o corpo, e deitou em cima da mesma. Deu a mão para a moça e ajudou ela a deitar em cima da roupa dele.

Ele se ajoelhou ao lado e começou a fazer massagem na moça. Começou no rosto, tocando a pele com a ponta dos dedos, ela enlouqueceu quando ele passou os dedos em seu lábio lhe causando choque. As mãos desceram pelo pescoço, alisaram os ombros e caíram nos seios. O rapaz não tinha pressa, sabia o que fazia e ia devagar conquistando e dominando cada pedaço do corpo dela. Os dedos percorreram a barriga, dançaram no umbigo e fizeram festa no elástico do shorts; um engraçadinho se perdia e acabava encostando na parte debaixo do biquíni.

Ela ria de nervoso, de feliz, mas os dedos não pararam. Passaram a virilha, deslizaram na coxa, atravessaram o joelho, caminharam no final da perna até chegar nos pés. Eles receberam um tratamento especial e uma massagem mais relaxante, com toques delicados e até uns apertões um pouco mais forte.

Terminado o trabalho ali embaixo, ele resolveu subir de forma diferente e ao invés de tocá-la com a ponta dos dedos, foi beijando cada centímetro dela, daquele percurso que já conhecia.

Seus lábios caminharam pela perna, atravessaram o joelho, deslizaram felizes pela coxa e fizeram uma pausa estratégica na virilha que fez a moça se contorcer na prancha enquanto ele alternava os lábios com sua língua.

Língua essa que também brincou com o elástico do shorts embaixo do umbigo dela.

A barriga foi beijada, mordida e lambida, assim como os seios. Chegando no pescoço, o rapaz subiu seu corpo magro e cheiro de areia em cima da moça. Os lábios se encontraram novamente, as ondas ressurgiram, mas desta vez tinham espaço para nadar e ser livre.

Ela escorregou para fora da prancha, deitando na areia, o corpo em cima dela fez o mesmo. Os lábios não se desconectaram. As mãos da garota se engancharam no cabelo cacheado dele, depois se perderam em suas costas largas e lisas. Seus dedos deslizaram pela espinha até chegar no shorts preto e azul. Ela não resistiu e deu um belo apertão na bunda do garoto.

Não era só o beijo que continuava numa crescente, ela sentia outras coisas também.

As mãos dele coladas na cintura da moça foram subindo e levando a blusa branca dela junto. No segundo seguinte o nó do biquíni era desfeito e pele suada deles se grudaram mais.

Ela voltou a beslicar a bunda do rapaz e aproveitou para tirar a bermuda - ele não aprendia, tinha ido sem cueca de novo. Ela caiu na gargalhada ao lembrar da história dele, que comentou que desta vez não estava passando vergonha.

Ele beijou novamente os seios sem biquíni dá moça, agora nada mais o atrapalhava, desceu até a barriga para tirar o shorts dela. O biquíni? Ele não tirou, só empurrou para o lado.

Os corpos voltaram a se grudar, a se espalhar e num movimento quase coreografado se uniram, se conectaram. Ele se inspirava e se movimentava como as ondas e ia e vinha em cima do corpo dela, às vezes mais devagar, às vezes mais forte.
A luz da lua não os encontrava, a sombra da pedra os protegia. A brisa refrescava o casal que era embalado pelo som do mar.

A moça não estava mais gelada, estava quente e suada. Suas unhas arranhavam as costas dele, ela mordia os lábios e se deixava perder naquelas sensações. Sentia um oceano dentro de si, ondas de calor se espalharam pelo seu corpo começando no ventre. A cada movimento dele, as ondas aumentavam até dominar o corpo todo e ela não aguentar mais e se contorcer de prazer.

O sorriso satisfeito no rosto dele a encantou, ele estava feliz por fazê-la conhecer a fundo aquela praia e todo o resto.

O oceano dentro dele se agitou, as ondas aumentaram também, iam e vinham, quebravam forte na praia, até explodirem nas pedras e ele deitar satisfeito sob o corpo dela.

O casal permaneceu ali deitados, suados com areia colada no corpo e com um sorriso enorme no rosto. A ciência explica, lua cheia é sinal de maré alta e sentimentos incontroláveis.

07 fevereiro 2017

Surfista

Sábado a noite estava sentada na areia da praia do Guarujá. Lua cheia no céu iluminava a paisagem, o som do mar indo e vindo como ioiô completava o que via. Ela foi transportada para outro lugar. Era daquilo que precisava, de paz, para recarregar a energia. Sentia que pertencia ali. Sentia seu corpo afundando cada vez mais na areia enquanto relaxava.

Algumas pessoas ainda estavam na praia, umas andavam na areia, outras nadavam - depois do calor feito aquele dia, a água parecia estar bem quentinha. No meio do mar, viu um rapaz surfando - maluco.

Ele saiu da água segurando sua prancha e foi em direção a uma toalha e outras coisas que estavam ali perto. Usava uma bermuda azul com detalhes em cinza e uma camiseta preta que foi tirada ao chegar na areia. Era alto, magrelo, sarado e mais tarde perceberia que o cabelo molhado daria espaço para cachinhos.

Fincou a prancha de pé num montinho de areia, pegou uma toalha, se secou e sorriu para a moça que o observava.

- Vai entrar? - perguntou o rapaz se aproximando.

- Não! Deve estar gelada...

- Tá nada! Está quentinha, calmo e tem poucas pessoas.

- Eu não sei nadar... Nem no quente, nem no frio... Gosto de sentar na areia, observar as pessoas e o lugar.

- Você analisa as pessoas então? - perguntou o rapaz desconfiado.

- Gosto de olhar - respondeu a moça - Reparar nos detalhes, na postura, no gestos, na paisagem, em tudo. É a primeira vez que venho nesta praia, então quero guardar tudo.

- Então vem comigo que vou te levar num lugar para você curtir mais a paisagem.

Ela ficou um pouco desconfiada, mas topou mesmo assim. Precisava tirar mil coisas da cabeça, uma conversa seria bem vinda para se distrair. Ele parecia ser mais novo que ela, tinha cara de bom moço, às vezes nosso sexto sentido acerta. Foi com ele, mas com um pouco de receio.

 Andaram pela areia branca e fofa da praia. Caminharam a beira mar; ela já descalça segurando sua bolsa e sandália nas mãos. Ele andava ao lado com sua prancha. Ela nunca esteve perto de uma, sabia que era grande, mas não imaginava que era tanto, e às vezes perdia o que o rapaz falava de tanto observar a mesma.

Observava também as costas largas do surfista, seriam anos de natação? Seu trapézio era bem definido assim como seu peito, era sarado, algo natural, não estilo monstro de academia. Tinha os braços largos, como seria ganhar um abraço dele?

Depois de uns 20 minutos conversando, chegaram no limite da praia onde estavam, as pedras os separavam da praia vizinha. 

- Cuidado que é um pouco escorregadio, mas eu te ajudo. - disse o rapaz estendendo a mão.

Subiram com calma, devagar, passo por passo, pedra por pedra até chegarem no topo do morro. Lá do alto tinham a vista de toda a praia, do horizonte azul do mar calmo e do negro da noite. Atrás deles, o calçadão com alguns ciclistas, prédios iluminados e quiosques fechados.

Lá de cima o rapaz disse que subia ali desde os 8 anos, que o pai incentivava e a mãe surtava. A família tem casa por ali, todo ano descem para o litoral e tiram uma foto dele em cima das pedras, esse tipo de coisa para dar orgulho para avó, ver quanto o neto cresceu. Ela ria ouvindo as aventuras que ele contava sobre cada pedaço daquela praia, e cada novo causo, ela relaxava mais e confiava nele.

Era noite, ainda fazia calor, porém a brisa dava um refresco. Ela fechou os olhos respirou fundo e sentiu aquilo que precisava: paz. Permaneceu em silêncio por alguns segundos e só abriu os olhos, quando ouviu:

- Eu também analiso as pessoas, e percebi que era isso que você precisava desde o momento que sentou na areia, antes de pegar minha primeira onda. - falando isso ele colocou a mão no ombro dela e começou uma massagem.

As mãos quentes e fortes dele tiraram toda tensão que ela carregava nas costas. Como ele sabia?

- Você precisa mesmo de uma massagem, e completa. Está muito tensa... Vem comigo!

Desceram as pedras pelo outro lado, para a outra praia mais escura e deserta. Ele foi na frente, e ela apoiava no ombro dele enquanto descia. Ficaram ali no cantinho, próximo as pedras, escondidos até da luz do luar.

Ele colocou a prancha no chão e pediu que ela deitasse de bruços em cima da mesma.

Começou massageando a cabeça dela bem topo com a ponta dos dedos, foi descendo até a nuca tocando espinha com os polegares, enquanto os outros dedos circulavam o pescoço descendo um pouco até o colo. O nó do biquíni dela atrapalhava, mas ele desviava os dedos. Com a palma da mão apertava as omoplatas, as pontas dos dedos agora percorriam a espinha inteira descendo e subindo. Massageou as costas devagar, desceu até a cintura causando um arrepio de leve. As mãos próximas ao cóccix foram descendo, passando pela prancha, para perto de umbigo, ele pressionou a barriga e a levantou, a transportando para longe dali. 

Ele estava sentado ao lado da moça, cruzou uma perna por cima e ficou entre as pernas dela.

As mãos desceram pelo culote e apalparam a parte interna da coxa, adentraram por dentro do mini shorts que usava. O toque quente dele fez a pele da moça ferver.

Os dedos dele entraram por baixo do shorts, um por um foram entrando até chegar ao bumbum. Ele massageava e apertava, os polegares foram descendo o topo daquele morro e chegaram no lugar mais úmido do corpo dela.

Como uma onda do mar, sentiu dentro dela um calor indo e vindo. O calor era crescente, aumentava a cada segundo. Os dedos escorregaram mais para dentro e ela se contorceu de prazer, mordendo os lábios deitada na prancha. Agarrada a areia, ela pediu que ele fosse mais forte, mais rápido e com aquilo fez uma onda de calor estourar nas pedras e na prancha, que a fez escorregar no liso e deitar na areia.

- Relaxou? - perguntou o menino.

Ela se virou sorrindo, balançou a cabeça dizendo que sim.

05 janeiro 2017

Pousada

Havia chegado em São Paulo há poucas horas, saiu do aeroporto e se instalou numa pousada ali perto. Entrou no sobrado, era fim de ano e devia ter uns 2 ou 3 hóspedes dormindo ali, passou pela piscina vazia e quis se jogar, aproveitar o calor forte mesmo sendo umas 21h, passou pela cozinha e foi em direção aos quartos.

O quarto dela ficava no andar de cima, na região da escada tinha um mini jardim, com flores e outras plantas que davam um clima mais verde, cheiroso e refrescante na construção. Subiu a escada lentamente reparando nos detalhes das portas, na escada vazada e na decoração simples dentro de cada quarto. O final da escada dava de frente para um quarto, ela tinha que passar por ele para chegar no seu aposento. Olhou o espaço a meia luz, a janela estava aberta assim como a cortina para entrar um ar, visto que o ventilador ligado não dava conta do calor. Na cama de solteiro havia um rapaz deitado e pelado. Como num quadro ela reparou em todos os detalhes do ambiente: no tom de pele dele, nas tatuagens espalhadas pelo corpo, no peito, braços e perna, e reparou principalmente no membro ereto dele.

Se sentiu num filme erótico, uma voyeur, olhando ele pele fresta da cortina. Coração acelerou e sentiu uma onda quente percorrer seu corpo enquanto ficava excitada. A mochila pesada nas costas e a mala na mão ganharam mais peso com as pernas trêmulas.

Ele estava deitado, relaxado, parecia que não dormia, estava em paz. Era o que ela queria, aquela paz. Se aproximou devagar para vê-lo mais de perto, mas bateu a cabeça na janela fazendo um barulho acordando o rapaz.

Ficou sem ação, sentiu o rosto ficando vermelho e a boca sem palavras. Então sorrindo o rapaz disse:

- Você está vermelha, deve ser o calor. Entra que aqui está mais fresco.

Ela entrou tirando coragem de alguma das bagagens, jogou as mochilas no chão e o corpo na cama. Sentou próximo dele e foi tirando a sandália, ele a ajudou. Depois de desamarrar os calçados dela, acariciou o pé passando a mão pela panturrilha até chegar na parte interior coxa. Foi naquele momento que ela percebeu o porquê o ventilador não dava conta do calor.

Sentiu seu corpo aumentando a temperatura a cada centímetro que a mão dele avançava sobre sua calcinha. Enquanto isso enlaçou suas mãos sobre o pescoço dele e arranhava de leve suas costas. A mão dele devagar foi tirando aquela pequena peça de renda que atrapalhava na expansão do calor. Ela ajoelhou na cama se encaixando no quadril dele e ele encaixou o rosto entre os seios dela. Ela arrancou o vestido e o sutiã junto com a onda quente que percorria seu corpo. As mãos do rapaz pegaram com força suas coxas, passaram pelo bumbum, subiram pelas costas e puxaram seu cabelo, fazendo seu tronco ir para trás e seus seios indefesos para frente, ele aproveitou para mordê-los. Juntou seu peito com o dela fazendo os corpos se unirem e grudarem com o suor de ambos.

Ela passou a mão pelo cabelo dele, segurou seu rosto e o beijou, ele agarrou-lhe pela cintura e a levantou apoiando-a na parede gelada, ela gemeu baixinho quando sua pele quente encostou naquela textura fria.

- Vem comigo que eu sei de um jeito de acabar com esse calor...

Como um adolescente ele saiu correndo do quarto, desceu a escada pulando uns degraus até chegar no deck onde mergulhou na piscina. Ela foi correndo atrás dele, mas não se jogou, parou perto, coração acelerado. Ele a olhou de baixo pra cima e sorriu com malicias, então ela se jogou de cabeça na piscina e naquele mar de segundas intenções do sorriso dele.