01 novembro 2013

Sessão

Cheguei 19h em ponto como previsto, entrei na terceira porta a direita como foi pedido e fui me acostumando com o breu daquele estúdio de fotografia. A sala era grande com equipamentos, cabos, acessórios. Escada, bancos, luzes, refletores; tudo mais o que você imaginasse tinha lá. Chamei por alguém de sobrenome estrangeiro. Ninguém respondeu. Já conhecia por nome aquele fotografo de moda; seria minha primeira sessão de lingerie, então sua equipe me chamou para uma entrevista antes, um bate papo para se conhecer melhor, para me deixar mais a vontade. Voltei a chamar, e me responderam:

- Nos fundos! Porta 2.

Abri a porta e entrei como se entrasse numa selva, me desviando dos filmes pendurados como se desviasse de galhos. Tudo escuro, só com uma luz vermelha.

- Você fica bem nessa luz. - disse a voz do breu.Estranhei o tom de voz, que por sinal estava rouca que continuou falando - Melhor irmos lá fora, aqui não veremos nada.

Voltei pelo caminho que entrei e quando virei, ouvi:

- Eu sou a K.Nacari, aceita alguma coisa? Água, café? Desculpe minha rouquidão, virei umas noites por causa de uma sessão e estou assim...

Fiquei petrificada. O famoso fotografo de moda intima, então é famosA? É uma mulher? Então é por isso que elas ficam tão a vontade. Me senti mais calma, me apresentei, mostrei meu book e conversamos um pouco.

Ela era muito engraçada, contando vários casos de sessões que deram errado: modelo que rasgaram roupas em poses ousadas, luz que queimava, vento que derrubou cenários... E tudo o que ela dizia ficava incrível com aquela voz rouca - nem sei de que lugar da minha cabeça surgiu esse pensamento. Num momento pensei que ela tivesse notado minhas bochechas rosadas viajando no som de sua voz que estava extremamente sexy.

Elogiei uma câmera antiga que estava em cima da mesa, ela perguntou se eu já tinha pousado para uma lente daquelas; respondi que não.

- Então é agora! É bom para você ir ensaiando as poses de amanhã! Bora lá!

Ela posicionou as luzes e refletores para o fundo infinito branco. Deixei minha bolsa e o resto das minhas coisas num sofá e fui fazer aquilo que mais amo.

- Pra começar abre esse primeiro botão da camisa e solta esse cabelo que você está social de mais, parece minha tia avó secretária.

Ri tão alto que minha risada ecoou pelo estúdio inteiro e ela aproveitou o momento de descontração para tirar fotos no momento em que explodia de alegria. Depois de algumas poses já estava mais a vontade e num impulso que surgiu sabe-se la de onde sugeri algo:

- Podíamos fazer uns testes de lingerie...

Desta vez quem ficou vermelha foi ela, que me abriu um sorriso com brilho nos olhos e disse que sim. Tinha que aproveitar meu momento, minha carreira podia crescer depois daquela sessão. Precisava aproveitar aquele dia, aquele conceituado nome que me fotografava para conseguir sucesso.

Ela sentou num banco alto atrás da câmera posicionada num tripé e comentou que havia um camarim aos fundos. Respondi que não tinha problema e comecei a me despir ali. Mesmo atrás da câmera, percebi que ela me olhava, senti um arrepio na espinha - nunca havia "tirado a roupa" para uma mulher e não achei ruim. Gosto de ter alguém me admirando - qual modelo que não gosta de ter o ego elevado?

Desabotoei bem devagar os botões da minha camisa azul escuro e aos pouco fui deixando meu sutiã vinho aparecendo, tirei a camisa e ela pediu para que eu ficasse assim, de saia com o sutiã. Sempre gostei também da ideia de alguém mandando em mim. Aquilo estava subindo para minha cabeça - de onde vinham esses pensamentos?

Ela ligou o som e a sessão foi rolando mais tranquila até eu tirar a saia.

- Deita no chão.

O chão gelado só me fez comprovar o quanto eu estava quente. Ela tirou a câmera do tripé e sentou do meu lado, fazendo meu coração bater mais rápido.

- Posso ousar? - fiz que sim com a cabeça e ela ficou "em cima" de mim. Suas pernas prendiam minha cintura e ela focava meu busto e meu rosto.

Eu estava em outro mundo. A voz dela, a música, a luz... Se fosse um fotografo eu teria ousado e abusado dele... Mas, para onde iria minha carreira depois? Ia ficar marcada, ou ia virar top? Aquilo era quase uma fantasia adolescente, mas, não era a minha.... Já tinha perdido o foco da sessão quando ela disse que o filme tinha acabado e falou que ia me mostrar como era feita a revelação.

Ela entrou na sala vermelha selva e eu fui atrás sem que ela percebesse. Ela disse que essa tinha sido uma das melhores sessões que ela fez, uma das mais divertidas e ficou surpresa ao olhar pra trás e ver que eu estava ali de calcinha e sutiã. Eu ri e disse:

- Ahh, você já viu tudo o que tinha para ver...

-Tudo não...

E num impulso animal, carnal, me joguei em cima dela e a agarrei, que me correspondeu pegando pelos meus cabelos e cintura. Nessa hora no estúdio Justin Timberlake cantava "I'm bringing sexy back"... Ahhh, sexy... Ela beijou meu pescoço e ia descendo para meu colo e meus seios com uma delicadeza e uma vontade...Via estrelas, estava em êxtase como nunca estive antes, acho que o proibido, o novo, o diferente, me motivaram... Sussurrei em seu ouvido:

- Pode pedir que faço a pose que você quiser...

Ela passou as mãos sobre minha bunda, fazendo que minhas pernas cruzassem sua cintura e me colocou sentada na mesa oposta. Nessa hora nada mais fazia sentido... Nunca tinha estado com uma mulher antes, nunca tinha sentido aquilo, mas, a mistura do ambiente, luz, voz, tudo aquilo me deixou louca e ficou mais fácil para continuarmos.

As mãos, bocas, pernas, tudo em sincronia, estava pronta para ficar nua diante daqueles olhos que me devoravam, quando ela me disse:

- Tive uma ideia! Espere aqui.

Óbvio! Para onde mais eu iria naquele estado? Eis que ela surge com sua câmera digital na mão. Ri como se já a conhecesse há tempos, já desconfiava daquilo.

Me senti a capa da Playboy Novembro 2013 com as poses que ela pedia. Tava muito divertido, porém, não era aquilo que eu queria, nem ela, que parou pouco depois e continuou me beijando: o pescoço e foi descendo, descendo, descendo...

As mãos dela tinham anos de experiência com máquinas, lentes, tripés e certeza que com outros corpos. Fui ao êxtase mais rápido que um flash, vi mais que estrelas, vi constelações inteiras enquanto ela invadia lugares que lente alguma alcançou. Naquele instante pedia mais uma, duas, três fotos, outras poses, outros ângulos, mas, que ela não parasse, continuasse capturando meus sentimentos mais íntimos naquele super close.

Já nem lembrava da nossa entrevista, da sessão do dia seguinte, da minha timidez de antes, queria fazer com que ela se sentisse tão bem quanto ela me fez; queria ensinar alguns ângulos que ela só conhece de fora.

[...]

A entrevista foi um sucesso! Se me perguntarem digo que foi incrível, a fotografa é excelente, capturou minhas emoções como ninguém.

No dia seguinte cheguei ao estúdio morrendo de vergonha. Cumprimentei a equipe, o pessoal da parte comercial da marca de lingerie e dei um sorriso discreto para a fotografa. Fui para o camarim me trocar, tomar uma água, tentar relaxar, pois, estava mais nervosa que o dia anterior. Vermelha e com o coração disparado. Estraguei tudo pensei. Bateram na porta, era a assistente da fotografa me dizendo que a Nacari queria que eu visse umas fotos no laboratório de revelação.

Fui sozinha com o coração na mão até os fundos; entrei pela porta 2 que me trouxe lembranças e arrepiou a espinha. Percebi que havia uma única foto pendurada, meu coração chegou na boca. Cheguei mais perto e era uma foto lindíssima: uma modelo sentada em uma mesa cobrindo os seios com as mãos - num cenário muito parecido com o de ontem, mas, não era eu. Ao lado tinha um recado:

- As melhores fotos nem sempre são registradas com as câmeras, ontem não tirei nenhuma foto sua, eu menti, pois, quis que você se soltasse, ficasse mais tranquila e funcionou muito bem. Me arrependo de não ter te fotografado ontem, pois, foi uma sessão incrível.