26 junho 2013

ONline...

        O ícone ficou verde quase meia noite. Online.
        Se conheciam há alguns meses. Trocavam recados e curtidas no facebook, mensagens tolas no celular e altos papos via skype.
       Ele morava na zona norte, ela na sul. Ele tinha 25 anos, santista, fazia administração com especialização nas áreas contábeis - ou algo do tipo que ela nunca entendia. Ela 22, amava natação e havia largado medicina veterinária, pois, não era forte o suficiente para algumas coisas desse cotidiano.
        A agenda, distância, trânsito, emprego, cursinho, faculdade e outros detalhes sempre os afastavam de um encontro cara a cara. Só haviam se visto uma vez na balada de aniversário de um primo de alguém.
       Chovia outro diluvio em São Paulo, vento forte, relâmpagos, mas, eles nem se importavam.
       A câmera do notebook dela focalizava algo que parecia uma foto 3x4, o rosto, um pouco dos ombros caídos, pescoço e seus cabelos loiros médio; atrás dela apenas a parede lilás. Do outro lado, exibicionista como era, estava sem camisa e dava para apreciar sua barriga sarada no ponto exato - nem muito, nem pouco, na medida ideal - e alguns posters colados na parede.
       No meio da conversa ela tentou alcançar algo fazendo com que seu note escorregasse para seu colo e como uma luz divina se aproximasse do seu decote - já analisado por ele anteriormente - com uma regata branca e alça vermelha do sutiã. Sem saber desse detalhe, ela continuou a conversa que acabou no segundo seguinte quando ele elogiou o detalhe da renda da alça.
       Ela deu um pulo na cama, onde estava sentada quando um clarão invadiu seu quarto, os trovões e relâmpagos não paravam.
       A conversa fluía tranquila, mas, com olhares e sorrisos que quase enganavam. Ia correndo pela madrugada assim como a chuva incessante. O assunto das 2 horas da manhã era o novo aplicativo do facebook, onde você podia "escolher" entre sua lista de amigos quem você "pegaria". Ambos concordaram em testá-lo e marcar algumas pessoas para saber no que ia dar. Não foi surpresa para ela ao receber um email do aplicativo falando sobre o interesse dele.
        Ele percebeu nas bochechas delas, que mudaram de cor de repente, que ela havia lido o email. Será que ela vai aceitar o convite, ou vai ficar de brincadeira?
       Os olhos dela não encaravam mais a câmera, sua face ainda permanecia rosada enquanto digitava: com quem ela falava? Por que não o respondia? A vergonha de um fora o deixou desanimado, ela ainda não havia respondido e estava muda ao questionamento dele.
        Ergueu os olhos, riu de uma maneira que ele jamais tinha visto e no minuto seguinte ele recebeu um email dela: era uma resposta positiva.
        Se olharam, sorriram e ele quis saber quando iam se encontrar, ela disse não saber, pois, estava em semana de provas, mas, podia dar um aperitivo a ele. Então levantou, colocou o notebook sobre a mesa, apagou a luz deixando só um abajour ligado. Ele ficou boquiaberto ao ver que ela só vestia uma regata branca, com o sutiã vermelho e um shortinhos listrado rosa bem claro, ele jamais tinha visto tanto assim. Colocou uma música baixinha e com ela fez uma dança hipnotizante.
       Com um sorriso malicioso no rosto dançava ora olhando pro chão, ora encarando câmera. Levantou sua mão em direção ao ombro e delicadamente abaixou uma alça da blusa, deixando amostra a vermelha do sutiã, fez a mesma coisa do outro lado. Subiu a blusa deixando a mostra seu umbigo e o escondeu, voltou a levanta-la e novamente o escondeu. Essa brincadeira de esconde-esconde estava o deixando maluco; sabendo disso, enrolou mais um pouco e tirou a blusa de vez, jogando-a contra a câmera do note.
        Continuava dançando, mas, agora de costas. Lentamente desabotoou o sutiã, e de novo jogou  na direção dele. Cobriu os seios com as mãos impedindo que ele os visse; ele nesse momento já estava com o coração acelerado, com calor espalhando pelo corpo e com as calças apertadas.
      La estava ela, sem o sutiã vermelho e shorts, mas, vestida com algo que ele rezou para que ela não tirasse: o sorriso malicioso.

18 junho 2013

Viva la revolución

Quando a bomba explodiu, corri pra rua escura e vazia onde havia um carro; dentro dele, escondido, ele estava. Eu de pé com bandeiras nas mãos, com o rosto coberto com o que sobrou de tinta, com medo, com frio. Foi ali olhando para aqueles olhos verdes que me perdi.

Já não me interessava o protesto, os gritos, as pessoas, a fumaça... Já tinha perdido a conta de quanto tempo ficamos nos encarando...

Outra bomba explodiu e com ela mais fumaça; não se via, nem sentia mais nada... Larguei as bandeiras no chão e ele me abriu a porta do carro.

Meu rosto coçava por causa da tinta, meus olhos lacrimejavam pelo efeito da bomba e meu coração acelerava por causa dele. Ele tirou a camisa e limpou meu rosto, meus olhos.

O calor e o cansaço eram intensos, tirei a jaqueta e segui aquela frase que diz: faça amor, não faça guerra. Jamais havia estava num carro com alguém, muito menos com alguém que acabara de conhecer.

Havia andado por mais de 3 horas junto a uma multidão de 30 mil pessoas, estava cercada por desconhecidos, policiais armados, com cachorros, cavalos, tropa de choque, porém, nada daquilo me fez sentir tão viva quanto o tempo que fiquei no carro. Senti minhas pernas tremerem, meu coração acelerar, meu olhos revirarem. Cravei minhas unhas nas costas dele e a cada momento que perdia o fôlego, dentro de mim uma máscara caia, a verdadeira eu acordava. A gigante adormecida dentro de mim ganhava vida e quando senti um calor me queimando por dentro, no ápice do momento gritei:

- Viva la revolución!


02 junho 2013

Para o demoninho de olhos negros

dedico este humilde texto.

Muito tempo se passou e muito do que ia te dizer se perdeu, mas, basta olhar para seus olhos que como numa máquina do tempo me transporto pro passado, para aquele sentimento: coração acelerado, arrepio na espinha, bochechas rosadas e o sorriso tímido de quando te encontrava.

Ainda não sei o que você desperta em mim... Seria um pecado? Preguiça por não querer sair do seu lado? Ódio, por não te ter ao meu lado? Inveja! De quem está ao seu lado? Gula!??! Por querer te devorar inteiro? Claro que a luxúria fica em primeiro lugar, né?
Você sempre foi o "muso inspirador" de muita gente, e com tamanha inspiração, como não escrevi nada antes para você? Injusto! Mas, peço que me perdoe agora, enquanto faço esta singela homenagem.

Quando eu te via era como se as portas do céu se abrissem e delas saíssem um anjo - perdoa-me se não fores crente o suficiente para acreditar que eles existem, ou se na sua religião não há nada parecido - perdia o ar, me dava até palpitação; tinha certeza que naquele minuto seria salva. Ou seria então um anjo vindo de outro lado, posto na Terra para nos tentar? Ahhh tentação... Confesso que pequei muitas vezes, todas as vezes que olhava para você; nunca me ensinaram a ser forte o suficiente e pensar: não, não, não!


Porém, não se preocupe, esta tardia homenagem é só um lembrete do efeito que você causa nas pessoas... E o agradeço tanto por isso... Às vezes só precisamos de um pecado pra terminar o dia bem...