28 março 2016

Marcas

Ela fechava os olhos, não era de dor, era um pequeno incômodo repetitivo. Mordia os lábios, engolia seco e ignorava o arrepio frio.

- Foi você que pediu por isso! - disse ele continuando seu trabalho

Era a segunda tatuagem que ela fazia, mas desta vez queria um traço mais fino, no pulso, algo mais delicado, o que fez com que o tatuador se atentasse mais aos detalhes.

- Tá doendo? 

- Não! Só incomoda um pouco - falou a cara escondendo a cara de dor

Ela já o conhecia de outro lugar, porém nunca tinha tatuado com ele. Estava sem graça, falava baixo, pois, não tinha muito assunto. Sempre o achou bonito e ficava reparando no piercing que ele tinha na boca - nunca beijou um cara com um, como seria?

- ... faço o traçado mais vezes - ele terminou a fala

O que foi que ele havia dito? Ela doida nos pensamentos não ouvia o que ele dizia, só reparava na mão dele segurando forte seu pulso para não sair do lugar, enquanto a outra mão segurava a máquina e tatuava ela. Às vezes sua mão tocava a pele dele; estavam gelados, o ar condicionado esfriava o ambiente, o que era bom pra ela, pois não ficaria vermelha tão fácil. Ela sempre se perdia nos olhos dele, sempre achou que ele tivesse olhos de lobo, aqueles que saem para caçar.

- Como a agulha é fina, faço o traçado mais vezes - ele repetiu pois viu o rosto cheio de dúvidas dela

Com seu trabalho finalizado, pegou papel com algo para limpar e segurou gentilmente o braço dela, bem diferente da outra vez, era suave, bom, era interessante essa mistura de forte e suave.

Precisava fotografar a tattoo, para o trabalho dele, pegou uma câmera e a chamou para o andar de cima do estúdio, onde a iluminação era melhor. Lá deviam ser feito as tatuagens maiores, pois, tinham algumas macas abertas, o que aguçou o pensamento dela. 

Ele a chamou e posicionou em frente a uma parede, seus olhos de animal estavam mais claros e vivos. Segurou o pulso dela e o virou para si. Tirou a foto, sorriu e disse que tinha que embrulhar o desenho. Pegou papel filme, enrolou, colou crepe e fim.

Foi mais rápido do que ela esperava. Ele foi em direção a escada para descer e ela deitou em uma maca, disse que queria imaginar como era tatuar uma grande área do corpo. Tirou a blusa, pegou uma caneta que estava num balcão e escreveu algo na barriga.

- Vem ver! Acha que esta aqui vai doer?

Ele veio manso, olhos baixos com um sorriso sedutor no rosto e riu quando leu a frase:

- Essa eu faço agora e não vai doer nada.

Começou a beijar a barriga dela e foi subindo devagar, dessa vez ela fechava os olhos por outro motivo. O incômodo que sentia antes foi trocado por uma onda de calor, a pele gelada estava quente agora e a única dor que sentia era dele mordendo seus lábios.

O plástico em seu braço grudou na pele dele enquanto ele terminava de subir na maca, que balançou um pouco. Ela entrelaçou suas pernas no quadril dele, enquanto ele acariciava o pescoço dela.

- Meu outro tatuador não me tratou assim... Esta tatuagem vai sair mais caro!

- Isto é de graça! Agora se você quiser colorir sua tattoo, aí é outro esquema...- ele falou, colorindo a face dela

Em cima da maca bamba eles se beijavam, ficaram agarrados sentido um o corpo do outro. O peso do corpo dele fazia força sobre o dela, ela não conseguia se mexer, lembrou da força dele quando segurava seu pulso. Sentiu algo no corpo dele:

- É só minha agulha que está feliz de te ver... Doida pra te tatuar,sentir tua pele.

Depois de rir continuaram se beijando, ela passava a mão por debaixo da camiseta dele, enquanto ele a segurava pelo pescoço. As coisas começaram a esquentar e ficarem mais rápida, mais forte e apressada. Ele levantou o tronco para subir um pouco mais, porém a maca não resistiu e quebrou levando os dois para baixo.

Do andar de baixo ouviu-se um estrondo, que fez com que um outro tatuador subisse correndo as escadas. Ficou olhando a cena sem entender: a maca quebrada e os dois gargalhando no chão. 

No dia seguinte a tatuagem coçava, o roxo da perna doía, mas a lembrança do momento ficava. Tem marcas que são permanentes.