31 julho 2014

Provador

Era uma noite, fria de Julho, o Sol já tinha se escondido e em cada esquina os ventos aumentavam mais.

Andava pelo comércio da região reparando nas pessoas, nas lojas, bares, cores, sons da rua. Tudo aquilo a inspirava e a fazia bem. A rua era movimentada, lojas de diversos tipos, pessoas de diversas classes, a cada quarteirão uma surpresa. Porém, o que tirava o encanto da rua e de suas lojas, era um caminhão da companhia elétrica arrumando um poste. Homens, barulhos, escadas, o que mais ela precisava? Ela só queria um pouco de paz.

No quarteirão seguinte, viu uma loja que a 
interessou. Era bonita, sofisticada, de bom gosto, uma loja de lingeries.Tinha como destaque um manequim com uma lingerie vinho, um conjunto completo que incluía calcinha, sutiã, meias e espartilho.

Olhou seu reflexo no vidro da loja e reparou na sua cara assustada. Estava de boca aberta, pois, tinha achado muito bonito o conjunto e nunca havia usado um daqueles. Riu por ver sua expressão e sentiu algo a chamando, algo que a fez entrar na loja. Entrou e ficou encantada com a quantidade de cores, texturas e modelos de lá. Uma das atendentes perguntou o que ela desejava, e ela tinha a resposta na ponta da língua: o conjunto vinho.

Entrou em um provador como uma menina de 15 anos curiosa. Tirou o tênis, a calça, a camisa e foi provar aquela tentação em vinho. Se arrependeu de ter tirado a roupa, primeiro pelo frio, segundo porque tinha que encarar seu corpo em dois espelhos, um em frente para o outro, como se fossem dois "juízes" julgando aquilo que ela apresentava. E a condenação só a fazia ficar mais encolhida de frio e vergonha.

Já tinha passado da hora de deixar de ser aquela criança. Resolveu criar coragem e experimentar a roupa. Prendeu o sutiã, arrumou a calcinha nova. Sentou em um banquinho e cuidadosamente subiu a meia. De pé, respirou fundo e colocou o espartilho. Apoio um dos pés no banco e prendeu o espartilho na calcinha com os "ganchinhos" que vinham juntos. Riu alto quando pensou na cena inversa, ela tirando toda aquela roupa. Pensou em cenas de filme, de striptease, cenas de sedução, coisas que ela também nunca tinha provado.

A garota de 15 anos tinha dado lugar a uma mulher forte, segura embrulhada em detalhes vinhos. O seu reflexo agora era outro, conseguia ver seu olhar mais poderoso do que nunca. Gostou do que via. Decidiu ficar se observando por mais tempo. Reparou que os dois juízes espelhos, nesse caso votavam a favor dela. Ela não sairia dali condenada.

Enquanto encarava aquela mulher no espelho, ouviu um barulho muito forte na rua, uma gritaria, confusão. A luz apagou e tudo ficou escuro, apenas umas luzes de emergência se acenderam ao longe, deixando o ambiente pouco claro. Com o susto e sem ter pensado direito, saiu do provador vestida de mulher fatal a procura de ajuda. Nenhuma vendedora por perto no corredor para informar o que estava acontecendo. Devia ser algo com o caminhão da luz.

Iria voltar para o provador quando congelou de medo. A menina de 15 anos quase voltou ao seu corpo quando encarou um rapaz no corredor. Ambos ficaram congelados até ele dizer:

- Essa cor fica bonita em você!

- Vinho?

- Não, o rosado das suas bochechas.

Ele sorriu e tinha uma paz naquele sorriso, o que fez com que o coração dela, que queria sair pela boca, desse lugar a um mais calmo, com ritmo mais tranquilo. Ele tinha cara de ser um bom rapaz, o que a fez rir descontroladamente, um misto de nervosismo e descontração. O frio e a vergonha já não existiam.

- Espera aqui! -  disse ele voltando por onde tinha entrado e iluminando o caminho com seu celular. - Experimenta com isso em cima. entregando a ela um robe preto de cetim.

Ela estranhou o gesto, mas,colocou o robe por cima e quis saber quem era aquele que a ajudava. Pensava que era um cliente, ou vendedor, mas, descobriu que era o dono da loja. Mais encabulada do que antes perguntou o porquê ele a ajudava, ele respondeu com um sorriso no rosto:

A recompensa de um vendedor é ver o cliente satisfeito -  disse isso levando-a até o provador para ela ver como tinha ficado.

Ainda tudo estava escuro, mas, do espelho conseguia ver o olhar dele. Ele se aproximou por trás dela e passando as mãos próxima sua a cintura, pegou o cinto do robe dando um nó para fecha-lo. Aquela aproximação a deixou trêmula e com o coração acelerado. Conseguia sentir seu perfume, fechou os olhos para se acalmar e ver se aquilo tudo não era um sonho. O que ela estava fazendo ali? Ele iria tirar as mãos do robe quando ela o segurou firme e o fez se aproximar mais dela. O peito dele estava colado em suas costas, ela sentiu calor, não era por causa do frio, mas, ele era quente. Ele sentiu o perfume dos seus cabelos enquanto ela disse:

- Se a recompensa de um vendedor é ver o cliente satisfeito, eu quero experimentar todas as peças que estão aqui no provador. disse ela passando as mãos no braço dele.

- Experimente o que quiser. ele falou enquanto aproximava a cintura dela para mais perto de si.

Tenho 30 dias para a troca?

Só se você não gostar. disse ele desfazendo o nó do robe.




08 julho 2014

Lobo

Ele não era o tipo de rapaz por quem ela se atraia: cara de mau, tatuado, com piercings e alargadores. Ela costumava curtir caras mais bonzinhos com quem pudesse manter um equilíbrio na inocência do relacionamento, não alguém para desconfiar a cada dois minutos.

A primeira impressão era: fique com pé atrás; já a segunda: tire os pés do chão e se jogue nele!

De repente a cara de marrento e o sorriso sacana se tornaram seu principal atrativo. O jeito cafajeste a atraia também, era o tipo de genro "enfarta mamãe".

Ele sentava na sua frente. Seus olhos castanhos claros surgiam por detrás dos óculos escuros todas as manhãs, que iluminava o ambiente para ela.

Uma vez sonhava que estava no depósito da empresa que trabalhavam. Era um quartinho pequeno, apertado, cercado por prateleiras cheias de coisas. Procurava um dos uniformes que usavam em eventos. Tinha achado uma blusa, mas, estava com preguiça de ir ao banheiro ao lado experimentar para ver se servia; sabia que ali a tarde não tinha muito movimento.

Desabotoou os botões de sua camisa e a tirou do ombro, ficando só de sutiã. Pegou a blusa para trocar, porém, ela escorregou de sua mão e caiu atrás de umas caixas. Apoiou-se em uma delas se curvando para frente para tentar pegar, deixando seu quadril para cima, quando ouviu uma voz:

- É essa posição que eu gosto.

Virou-se bruscamente para olhar. Seu rosto queimava em vermelho, seu coração queria subir do peito e seu braço não alcançava a blusa, que parecia ter caído em um penhasco.

- Desculpa - disse ele com os olhos brilhantes como um lobo que encontra sua presa. Ouvi um barulho e quis saber o que era.

- Apenas um acidente. Apressou-se pegando a roupa do chão, tentando se vestir, mas, a blusa enganchou nos grampos do seu cabelo, deixando sua cabeça e parte do seu peito coberto, enquanto seu sutiã rosa e sua barriga ficavam de fora.

Tentava não parecer mais ridícula do que já estava, quando sentiu seu corpo sendo puxado para frente e uma mão soltando o nó que ficou no seu cabelo. Aproveitou que estava ali escondida e perto dele para sentir seu perfume, que era maravilhoso. Durante aquele minuto que ficou ali, conseguiu se acalmar e desejava que aquele seu esconderijo não fosse revelado.

Coberta com a roupa e com vergonha, agradeceu.

- Preferia do outro jeito, sem tudo isso cobrindo o seu corpo. Disse ele saindo, depois de arrumar o fio de cabelo que encobria o rosto dela e bateu a porta.

Ela acordou no sofá da sala reservada da empresa, após o almoço sempre descansava ali. O sonho havia sido intenso, nunca tinha sonhado com ninguém do trabalho, mas entendia o porquê sonhara com ele.

Saiu da sala e foi ao banheiro lavar o rosto, retocar a maquiagem. Saindo de lá, ouviu um barulho no depósito. Entrou e viu o gato tatuado sem camisa se trocando.

- Então era você que estava no banheiro! Tive que me trocar aqui! Falou ele sem a menor culpa ou vergonha por estar sem camisa na frente dela. Que foi? Algum problema? Sorriu colocando sua camisa sem entender o que estava acontecendo.

Ela entrou no depósito, fechou a porta e se aproximou dele - desta vez, ela que estava com olhos de lobo caçador.

- Preferia do outro jeito, sem tudo isso cobrindo o seu corpo. Disse ela colocando a mão no peito dele e tirando sua camisa.