08 julho 2014

Lobo

Ele não era o tipo de rapaz por quem ela se atraia: cara de mau, tatuado, com piercings e alargadores. Ela costumava curtir caras mais bonzinhos com quem pudesse manter um equilíbrio na inocência do relacionamento, não alguém para desconfiar a cada dois minutos.

A primeira impressão era: fique com pé atrás; já a segunda: tire os pés do chão e se jogue nele!

De repente a cara de marrento e o sorriso sacana se tornaram seu principal atrativo. O jeito cafajeste a atraia também, era o tipo de genro "enfarta mamãe".

Ele sentava na sua frente. Seus olhos castanhos claros surgiam por detrás dos óculos escuros todas as manhãs, que iluminava o ambiente para ela.

Uma vez sonhava que estava no depósito da empresa que trabalhavam. Era um quartinho pequeno, apertado, cercado por prateleiras cheias de coisas. Procurava um dos uniformes que usavam em eventos. Tinha achado uma blusa, mas, estava com preguiça de ir ao banheiro ao lado experimentar para ver se servia; sabia que ali a tarde não tinha muito movimento.

Desabotoou os botões de sua camisa e a tirou do ombro, ficando só de sutiã. Pegou a blusa para trocar, porém, ela escorregou de sua mão e caiu atrás de umas caixas. Apoiou-se em uma delas se curvando para frente para tentar pegar, deixando seu quadril para cima, quando ouviu uma voz:

- É essa posição que eu gosto.

Virou-se bruscamente para olhar. Seu rosto queimava em vermelho, seu coração queria subir do peito e seu braço não alcançava a blusa, que parecia ter caído em um penhasco.

- Desculpa - disse ele com os olhos brilhantes como um lobo que encontra sua presa. Ouvi um barulho e quis saber o que era.

- Apenas um acidente. Apressou-se pegando a roupa do chão, tentando se vestir, mas, a blusa enganchou nos grampos do seu cabelo, deixando sua cabeça e parte do seu peito coberto, enquanto seu sutiã rosa e sua barriga ficavam de fora.

Tentava não parecer mais ridícula do que já estava, quando sentiu seu corpo sendo puxado para frente e uma mão soltando o nó que ficou no seu cabelo. Aproveitou que estava ali escondida e perto dele para sentir seu perfume, que era maravilhoso. Durante aquele minuto que ficou ali, conseguiu se acalmar e desejava que aquele seu esconderijo não fosse revelado.

Coberta com a roupa e com vergonha, agradeceu.

- Preferia do outro jeito, sem tudo isso cobrindo o seu corpo. Disse ele saindo, depois de arrumar o fio de cabelo que encobria o rosto dela e bateu a porta.

Ela acordou no sofá da sala reservada da empresa, após o almoço sempre descansava ali. O sonho havia sido intenso, nunca tinha sonhado com ninguém do trabalho, mas entendia o porquê sonhara com ele.

Saiu da sala e foi ao banheiro lavar o rosto, retocar a maquiagem. Saindo de lá, ouviu um barulho no depósito. Entrou e viu o gato tatuado sem camisa se trocando.

- Então era você que estava no banheiro! Tive que me trocar aqui! Falou ele sem a menor culpa ou vergonha por estar sem camisa na frente dela. Que foi? Algum problema? Sorriu colocando sua camisa sem entender o que estava acontecendo.

Ela entrou no depósito, fechou a porta e se aproximou dele - desta vez, ela que estava com olhos de lobo caçador.

- Preferia do outro jeito, sem tudo isso cobrindo o seu corpo. Disse ela colocando a mão no peito dele e tirando sua camisa.



Nenhum comentário:

Postar um comentário