18 junho 2013

Viva la revolución

Quando a bomba explodiu, corri pra rua escura e vazia onde havia um carro; dentro dele, escondido, ele estava. Eu de pé com bandeiras nas mãos, com o rosto coberto com o que sobrou de tinta, com medo, com frio. Foi ali olhando para aqueles olhos verdes que me perdi.

Já não me interessava o protesto, os gritos, as pessoas, a fumaça... Já tinha perdido a conta de quanto tempo ficamos nos encarando...

Outra bomba explodiu e com ela mais fumaça; não se via, nem sentia mais nada... Larguei as bandeiras no chão e ele me abriu a porta do carro.

Meu rosto coçava por causa da tinta, meus olhos lacrimejavam pelo efeito da bomba e meu coração acelerava por causa dele. Ele tirou a camisa e limpou meu rosto, meus olhos.

O calor e o cansaço eram intensos, tirei a jaqueta e segui aquela frase que diz: faça amor, não faça guerra. Jamais havia estava num carro com alguém, muito menos com alguém que acabara de conhecer.

Havia andado por mais de 3 horas junto a uma multidão de 30 mil pessoas, estava cercada por desconhecidos, policiais armados, com cachorros, cavalos, tropa de choque, porém, nada daquilo me fez sentir tão viva quanto o tempo que fiquei no carro. Senti minhas pernas tremerem, meu coração acelerar, meu olhos revirarem. Cravei minhas unhas nas costas dele e a cada momento que perdia o fôlego, dentro de mim uma máscara caia, a verdadeira eu acordava. A gigante adormecida dentro de mim ganhava vida e quando senti um calor me queimando por dentro, no ápice do momento gritei:

- Viva la revolución!


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