02 outubro 2016

Olha pra mim

Era a primeira vez que assistia ao show daquela banda que há anos ouvia. Só conhecia as vozes, não sabia como eram os rostos deles, não sabia o nome de nenhum integrante - devia ser preguiça de pesquisar - mas sabia de cor todas as músicas dos dois cds.

Iria ter um mini festival de três bandas: uma que nunca ouviu falar, que seria a primeira a tocar; uma que ela idolatrava e conhecia bem os integrantes e a essa outra que ela curtia muito, mas não era tão íntima - foi nesse show 90% só por causa deles, precisava vê-los de perto, sentir essa energia ao vivo e conhecê-los.

O primeiro show era de um grupo que tocava músicas de faroeste vestidos a caráter, era bem ok, nada de super, porém faltava algo. O instrumental era incrível, entretanto ela sentia falta de letra nas músicas - como uma boa redatora gostava de escrever, de ler e conhecer a pessoa por aquilo que ela compõe. Por isso nem focou sua energia neles, queria a segunda banda.

Eles subiram no palco e como num jogo de vídeo game, a barrinha de energia dela se completou na hora. Se arrepiou, cantou, gritou, ficou sem voz, dançou, requebrou, tudo que tinha direito naquele show.

A banda era ótima, instrumental maravilhoso, letras deliciosas, presença de palco marcante, mas o foco dela se perdeu um pouco naquele momento. Na voz poética, naqueles olhos de galã de filme estrangeiro, naquele cabelo despenteado, já falou na  voz sensual? O foco era o contrabaixista, ficou besta ao vê-lo na frente dela. Não sabia que era um dos vocalistas principais e aquela música que ela delirava ouvindo no celular,  era ele que cantava.

Queria correr atrás dele no camarim, ver se os dedos dele eram bons fora do contrabaixo. Queria puxar aquele cabelo pra perto e fazer ele cantar no ouvido dela. Queria estourar os botões da camisa que o música usava e compor uma melodia no corpo dele. Queria ver ele ainda tinha energia depois do show.

Ele cantava:

"Ah olha pra mim quando esbarrar por aí
Faça alguma coisa só não me ignore assim
Cansei de ser só um, mais um em mil"

Saindo do devaneio que se encontrava voltou para casa leve, cheia de energia e vontades. 

Hoje ela sorri com malícias quando ouve a voz dele e pensa: e se eu te encontrar por aí posso te falar das minhas vontades com a mesma facilidade que você toca? Se eu te falar quem sou vai me ignorar ou esbarrar em mim?

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