09 fevereiro 2021

Foto



Verão. Calor.
Me chamou para um vinho e um filme
Topei.
Ambos estavam respeitando a quarentena e por isso, subindo pelas paredes.

Conhecia aquele homem, sorriso e apartamento,
Já tinha visitado sua sala com seus instrumentos,
Violão, baixo, teclado, bateria,
Mas o que não conhecia era seu brinquedo novo:
câmera fotográfica.

Ele falou que sempre quis ter uma
E conseguiu comprar naquele mês.
Estava estudando as funções, lentes e luzes -
Era uma criança com seu brinquedo de Natal.
Uma taça.
Conversamos sobre a vida, trabalho, pandemia,
Passado, vontades, futuro
Outra taça.

Peguei as baquetas da bateria,
Tamborilei alguma coisa no surdo,
Toquei umas notas no teclado
E peguei seu violão.

Queria que ele me colocasse em seu colo
Dedilhasse pelas minhas cordas
E fizesse sair som dos meus lábios
Como do baixo que toca.

Ele sorriu do meu poema
Deixou a taça de vinho em cima da mesa
E pegou sua câmera.
Eu ri de nervoso e ele me fotografava.

Eu fingia que tocava alguma coisa
Enquanto ele procurava ângulos para fazer seus registros.

Mais uma taça,
Precisava beber, me soltar, perder a timidez,
Tentar encarnar a modelo.
Se aproximou. Clicou.
Ajoelhou. Focou. Clicou.

Sentia meu rosto ficando vermelho,
Queimando, de vergonha e pelo vinho.
Calor.

Levantei.
Ele se aproximou me beijou
E vagarosamente tirou minha blusa.
Calor.
Fiquei de calça e sutiã.
Fui até o teclado,
Ele atrás de mim,
Tirou fotos das minhas costas
Quase nuas cobertas pelo cabelo.

Se ajoelhou
Beijou minha cintura
Me mordeu, me virou.
Abriu meu zíper,
Me levantou,
Tirou minha calça.
Me puxou pra perto,
Me deu um cheiro,
Outro beijo
E me chamou para o chão,
No seu tapete felpudo.

Deitei apoiada nos cotovelos
Ouvi um disparo da máquina,
Sorri.
Senti as mãos geladas dele percorrendo minha coluna,
Abriu meu sutiã,
Deitei sentindo cócegas nos meus seios.

Ele andava de um lado para outro.
Cliques. Ângulos. Luzes. Sombras.
Outra taça.
O calor que sentia agora era diferente.
Virei para ele, pedi que se aproximasse.
Se ajoelhou.
Tirei a câmera das suas mãos,
Puxei ele para perto e o beijei.
O resto da história não foi fotografado,
Ficou registrado na nossa memória.

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