19 novembro 2016

Um cheiro

Acompanhava a banda que produzia em mais um show. O local era grande e tinha bastante público que dançava as brasilidades que o dj tocava. O show começava às 20h e no meio do povo ela dançava timidamente no seu canto enquanto tirava umas fotos.

Sentiu alguém a cutucar no ombro e virou, observou um rapaz alto, moreno, cabelo escuro estilo tigela e camiseta azul, perguntando sorrindo:

- Dança comigo?

- Não sei dançar e estou trabalhando...

- Você trabalha no evento?

- Não, para a banda!

- Tu trabalha para uma banda de forró e não sabe dançar?

Ela fez uma cara triste, ele riu e disse que a ensinaria. Segurou-a pela cintura e a pegou sua mão:

- O passo básico é quando eu for para trás com o pé direito, você avança com o esquerdo. A mesma coisa com o outro pé... Vamos tentar.

A primeira tentativa não deu certo por conta das pessoas dançando ou passando ao redor: levou duas cotoveladas e um pisão.

- Vai ser difícil, mas fique calma - disse ele sorrindo pacientemente

Na segunda vez foi um pouco melhor.

- Não fique tímida, se solte. Ninguém aprende rápido.

Incomodada com as pessoas a empurrando, pegou o rapaz pela camisa dizendo saber um lugar para dançar. Foi até os camarins, contra o mar humano que ia em direção ao palco, onde mostrou sua pulseira de acesso ao segurança que liberou sua entrada.

Fechou a porta da pequena sala onde entraram, afastou o sofá cinza e ficou pronta para dançar, aproveitando o som que tocava lá fora. O rapaz era simpático e estava adorando aquilo, ensinou o pouco que sabia. Ela às vezes até acertava um giro.

Em cada passo o corpo dela colava mais no dele, a cada giro o perfume que ele usava a embriagava mais e as mãos dele ficavam mais quentes a cada música. Enfeitiçada pelo ritmo nordestino, deu um cheiro no cangote dele e passou sua mão do ombro para a nuca e subiu até aqueles cabelos lisos. Essa coreografia ele sabia bem. Deu um cheiro nela também e desceu a mão que pousava nas costas até a cintura e a trouxe para mais perto.

O beijo foi uma dança que deu certo. As línguas pareciam coreografadas e bailavam num ritmo único. No meio do camarim, os corpos suados dançavam em paz sem ninguém pra perturbar.

Esse passo ela também sabia, mas aí ela gostava de ter a liderança, então empurrou o rapaz até o sofá e sentou no colo dele. As mãos quentes do rapaz invadiram a blusa e colaram nas costas dela, as da moça abriram rapidamente aos botões da camisa que ela amassava.

Tudo começou num xote, compasso devagar, sem pressa, se descobrindo, foi acelerando até chegar num arrasta pé de tirar o fôlego, a roupa e o sofá do lugar.

Na música seguinte ele liderava e estava com o corpo em cima do dela, sentia seu coração acelerado como um triângulo. Ele apertava o corpo da moça contra o sofá e ela se recordava da muvuca lá fora, do empurra empurra e nem ligou, pois o empurra que ela estava era bem melhor, então passou sua perna pela cintura dele e prendeu nas costas.

O rala coxa em cima do sofá estava mais quente que do evento. Os corpos dos dois se espalharam por todos os cantos do estofado. Ela ainda não aprendeu os passos do forró, mas nunca mais recusou um convite pra dançar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário